segunda-feira, 19 de julho de 2010

Trabalho infantil no Brasil

Fig 2                                                 Fig 1




Após assistir ao vídeo “Vida Maria”, ele nos mostra a real situação de muitos nordestinos que estão distantes da educação, pois muitos tem que deixar de lado a mesma, para suprir as necessidades da família. É o que nos mostram essas figuras, onde somente a fig. 1 revela o verdadeiro lugar das crianças, que é na escola, e não no trabalho escravo, como nos mostra a fig.2.

Os desafios que o Brasil enfrenta para oferecer uma educação de qualidade as nossas crianças são inúmeros , dentre eles, a falta de recursos pedagógicos nas sala de aula, como computadores, Dvd's, data-show, mas não cabe somente ao "Brasil", mas, a escola, ao educador, aos pais,  a enfrentar essa triste temática, ensinando o respeito à diferença e libertando-se de mitos, pois como brasileiros devemos lutar pelos nossos direitos, e a educação é uma delas.

sábado, 12 de junho de 2010

VIDA MARIA

Vida Maria from Frederick C. Junior on Vimeo.

A Educação, pode mudar vidas de “ Marias” e “ “Josés”!


A educação está presente nos mais variados espaços de convívio social hoje, porque inúmeros eventos e conflitos empreendidos pela população não formal ocorreram , para que a educação fosse algo para todos e não somente para as elites. A escola não é um sistema isolado, independente. É uma peça da engrenagem maior, a sociedade.



A Educação escolar no Brasil vem passando ao longo das últimas décadas por muitas transformações significativas, mas antes disto tínhamos um sistema de ensino muito “dualista”, onde estavam presentes dois tipos de formação, uma delas voltada para a formação comum dos cidadãos e outra voltada para a formação das elites da época. Depois de muitas reivindicações populares a educação vem transformando-se gradativamente, num sistema de ensino aberto a todos. Essas mudanças só foram possíveis graças às transformações da nova sociedade brasileira na economia, no mercado de trabalho e na cultura.
O filme de Mário Ramos “ Vida Maria”, nos mostra em uma forma de animação bem elaborada e criativa, o ciclo de vida de muitos nordestinos, cuja a educação tornou-se a última opção de escolha, pois à miséria em que vivem, os impedem de sonhar, de lutar por uma vida melhor. E essa “situação se perpetua de geração a geração, de “Marias” para “ Marias”, de “ Josés” para “ Josés”, onde a sobrevivência depende do trabalho de toda a família, inclusive das crianças. Essa não é somente a realidade dos nordestinos, mas sim de muitas crianças brasileiras, que desde cedo a educação lhes é vedada.
É fato consciente que o lugar da criança é na escola, mas será que esses pais tem noção que esse é um dos direitos das crianças, conforme nos informa o Estatuto da Criança e do Adolescente? No Art. 4º , “é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.”
Grande parte da nossa sociedade tem deixado de se preocupar em formar jovens criadores de idéias, empreendedores, que sejam capazes de realizar os seus sonhos e enfrentar os obstáculos que possam surgir para destruí-los. O que nós, como pais estamos oferecendo como diferencial para nossos filhos? Que história positiva estamos deixando para nossos filhos?
Com certeza não existem receitas, nem soluções simplistas ou mágicas para a mudança desse triste quadro que tem acompanhado a sociedade brasileira ao longo da sua história. Devemos valorizar mais à educação dos alunos oriundos das classes menos favorecidas, pretendendo dar-lhes uma visão crítica da sociedade vigente e também uma formação tão esmerada quanto é oferecida aos das classes mais abastadas, podendo assim competir em pé de igualdade pelas oportunidades que a vida oferece. Pois a educação é o instrumento mais eficaz para prevenir a intolerância do nosso quotidiano, ela pode mudar vidas. E isto começa na educação que os pais dão aos seus filhos, precisamos saber desde pequenos que devemos ser tolerantes, para compreendermos que todos nós temos direitos iguais e que devemos respeitar a diversidade humana.
“Educar é ser um artesão da personalidade, um poeta da inteligência, um semeador de idéias”. (Augusto Cury,2003:55)




Referências Bibliográficas:

CURY,Augusto Jorge.Pais brilhantes e Professores fascinantes. Rio de Janeiro:Editora Sextante,2003.
PORTAL DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES. Disponível em: http://www.direitosdacrianca.org.br. Acesso em: 27 de maio de 2010.

terça-feira, 27 de abril de 2010




LITERATURA COMO FONTE

“O que é social na obra de arte é a forma.”
Georg Lukács

“A referência ao social não deve levar para fora da obra de arte,
mas sim levar mais fundo para dentro dela.”
Theodor Adorno




Entende-se que a literatura constitui uma espécie de consciência social do contexto no qual se origina e com o qual mantém intensas e complexas ligações, que serão únicas em cada obra e constituirão a feição particular de todas elas. Nesse sentido, o texto literário pode ser tomado como fonte de estudo da História, ainda que constitua um tipo especial de fonte, uma fonte na qual a dimensão de artefato artístico, no caso literário, não pode ser deixada de lado. É exatamente por dar forma de uma maneira muito peculiar a questões que provêm da conjuntura maior na qual se insere, que a obra literária finca suas raízes no solo da História.
Não se trata, por isso, de buscar informações históricas no tecido textual das obras.
Este ponto de vista, que se pode qualificar de paralelístico, consiste essencialmente em
mostrar, de um lado, os aspectos sociais, e de outro, a sua ocorrência nas obras, sem chegar ao conhecimento de uma efetiva interpenetração. Trata-se muito mais de atentar para a maneira pela qual cada obra dá forma e representa os dilemas historicamente postos no tempo em que surge. Trata-se de tomar o texto literário “na condição de entidade mediadora, isto é, valendo não por si (ou não apenas em si), mas enquanto domínio de projeção do espaço social que o engloba.”
Muitas são as concepções teóricas que visam a explicação das relações existentes entre a as áreas da Literatura e a História. Estas, abarcadas sob a designação de crítica sociológica da literatura, têm por meta iluminar a presença da história no interior da literatura e, de outra parte, situar a literatura no interior do cenário histórico mais amplo. Se História e Literatura têm incontestáveis vínculos, a maneira pela qual tal relação se estabelece deve ser investigada, pois é na trama do texto que a mesma se evidencia. A forma e o conteúdo literários devem ser tomados como elementos indissociáveis, em cuja unidade reside não apenas a singularidade das obras, como também a singular forma de representar a história que cada uma delas apresenta.
O problema fundamental para a análise literária de grande número de obras é, segundo Antonio Candido, “averiguar como a realidade social se transforma em componente de uma estrutura literária, a ponto dela poder ser estudada em si mesma; e como só o conhecimento desta estrutura permite compreender a função que a obra exerce.” Só através do estudo formal, portanto, é possível apreender convenientemente os
aspectos sociais. Hoje entende-se que a integridade da obra não permite adotar visões dissociadas, pretendendo que o valor de uma obra esteja predominantemente em seu conteúdo ou em sua forma. Diz a esse respeito Antonio Candido no clássico Literatura e sociedade:

Só a podemos entender [a obra] fundindo texto e contexto numa
interpretação dialeticamente íntegra, em que tanto o velho ponto de vista que
explicava pelos fatos externos, quanto o outro, norteado pela convicção de
que a estrutura é independente, se combinam como momentos necessários do
processo interpretativo. Sabemos ainda que o externo, no caso o social,
importa, não como causa, nem como significado, mas como elemento que
desempenha um papel na constituição da estrutura, tornando-se, portanto,
interno.


Ainda que o método paralelístico possa ser legítimo quando se trata de meramente
ilustrar através da representação literária certos usos e procedimentos de época, é preciso
reconhecer que não se estará entrando no mérito do valor da obra, e sim usando-a como
ferramenta ilustrativa do processo histórico, o que implica em desconsiderar o valor estético. E este é, não resta dúvida, fundamental para o significado da obra. Os tipos mais comuns de estudo de tipo sociológico em literatura são, de uma parte, trabalhos que procuram relacionar o conjunto de uma literatura, um período, um gênero com as condições sociais. Este método tradicional foi esboçado no século. XVIII por Taine e no Brasil representado por Silvio Romero. Trata-se de delinear uma espécie de panorama das épocas, nem sempre apontando com felicidade a efetiva ligação entre as condições sociais e as obras.
De outra parte, há estudos que procuram verificar a medida em que as obras espelham ou representam a sociedade, descrevendo os seus aspectos, estabelecendo correlações entre aspectos reais e temas dos livros. Também ocorrem estudos puramente sociológicos, consistindo no estudo do autor e seu público. O estudo da posição e função social do escritor, procurando relacionar isso com a natureza de sua produção e ambas com a organização da sociedade é também um veio de trabalho de pesquisa envolvendo os dois âmbitos. É possível ainda investigar a função política das obras e dos autores em geral, com intuito ideológico bem marcado.
Outro tipo bem específico de estudo seriam aqueles sobre as origens da literatura em geral e dos gêneros em particular. Em todas essas propostas temos um deslocamento de interesse da obra para os elementos sociais que formam a sua matéria, para as circunstâncias do meio que influíram na sua elaboração, ou para a sua função na sociedade.
O primeiro passo para um uso bem-sucedido da literatura como fonte histórica é ter
consciência da relação arbitrária e deformante que o trabalho artístico estabelece com a
realidade, mesmo quando pretende observá-la e transpô-la rigorosamente, pois a mimese é sempre uma forma de poiese. Assim como os sociólogos, também os psicólogos manifestam às vezes intuitos imperialistas, tentando explicar apenas com os recursos de suas disciplinas a totalidade do fenômeno artístico, derivando de tal atitude simplismos, reduções esquemáticas como meio, raça, etc. Não devemos esquecer que a sociologia não passa de ciência auxiliar; não pretende explicar o fenômeno literário, mas apenas esclarecer alguns de seus aspectos. Neste ponto, surge uma pergunta: qual a influência exercida pelo meio social sobre a obra de arte? E ainda: Qual a influência da obra sobre o meio? Assim podemos chegar mais perto de uma interpretação dialética, superando o caráter mecanicista de muitas repostas.
Algumas das tendências mais vivas da estética moderna estão empenhadas em estudar como a obra de arte plasma o seu meio, cria o seu público, agindo em sentido inverso ao das influências externas. Estes estudos têm como foco a influência da obra sobre o meio. Dizer que a arte exprime a sociedade constitui hoje verdadeiro truísmo. Na prática, chegou-se à posição pouco fecunda de avaliar em que medida certa forma de arte ou certa obra corresponde à realidade. E pululam análises superficiais, que tentavam explicar a arte na medida em que ela descreve os modos de vida e interesses de tal classe ou grupo.
Para o historiador interessado em pesquisar a Literatura como fonte, cabe mostrar que a arte é social nos dois sentidos: depende do meio histórico e age sobre este meio. Para ele interessa principalmente analisar os tipos de relações e os fatos estruturais ligados à vida artística, como causa ou conseqüência. Desta maneira, sua primeira tarefa é investigar as influências concretas exercidas pelos fatores socioculturais. Estes fatores ligam-se à estrutura social (que define a posição social do artista), aos valores e ideologias (que definem a forma e o conteúdo da obra), às técnicas de comunicação (que definem a fatura e a transmissão da obra).
A dinâmica social das obras pode ser descrita em linhas gerais como de agregação ou de desagregação. A primeira se inspira principalmente na experiência coletiva e visa a meios comunicativos acessíveis. Procura, neste sentido, incorporar-se a um sistema simbólico vigente, utilizando o que já está estabelecido como forma de expressão de determinada sociedade.
Já a literatura de desagregação preocupa-se em renovar o sistema simbólico, criar
novos recursos expressivos e, para isto, dirige-se a um número ao menos inicialmente
reduzido de receptores, que se destacam, enquanto tais, da sociedade. Na verdade, não se trata de dois tipos, mas de aspectos constantes de toda obra, ocorrendo em proporção variável segundo o jogo dialético entre a expressão grupal e as características individuais do artista. A predominância de um ou outro se dá segundo a intenção de integração ou diferenciação. A primeira quer acentuar a participação nos valores comuns da sociedade. A segunda, acentuar as peculiaridades, as diferenças existentes entre os indivíduos. São processos complementares de que depende a socialização do homem.


Luciana Paiva Coronel
Doutora em Literatura Brasileira pela USP e
Professora do Centro Universitário Metodista IPA



A Análise dos vínculos entre Literatura e sociedade


A análise dos vínculos entre Literatura e Sociedade, ou a atribuição de uma função social à Literatura é tema de um sem número de pesquisas. Entre aqueles que defendem que toda obra literária deve obrigatoriamente cumprir um papel social, e a outra corrente de pensamento que entende a obra literária como algo absoluto, que existe em si e por si, não tendo compromisso algum além da estética (estesia), inclino-me a engrossar as fileiras do segundo grupo, sem fanatismos.
Uso a expressão ‘sem fanatismos’, pois, é óbvio que há uma extensa zona de intersecção entre literatura e sociedade; a obra literária (a obra de arte, de modo geral) sofre influência do meio social e o influencia, sendo esse um processo de intervenção dinâmico.
Sempre que tenho oportunidade de participar de seminários que discutem o tema, procuro defender a idéia que o saber gerado pela literatura contribui para a sobrevivência de uma identidade social que se constrói como narrativa; esse saber tece imagens, ora inusitadas, ora familiares, à procura de manifestar o real, que se torna tão mais intenso quanto maior for o estranhamento produzido pelo fato literário.
Não que a obra literária tenha essa responsabilidade ou qualquer outra obrigação (como querem alguns), mas, porque está no seu ‘caráter humano’ já que é produzida por homens.
Quando falo em manifestar o real, refiro-me a determinados ângulos da realidade captados pelo olhar do autor, filtrados pelo seu próprio ideário cultural, sua percepção sensorial e afetiva, e, finalmente, transformados por ele em escritura. Aqui, é preciso cuidado para não ser reducionista: a obra literária não é um mero produto da incorporação de realidades apreendidas ou inventadas.
Através do contato com a escritura de Marcuse tenho compreendido melhor a zona fronteiriça e, portanto, conflitante, entre Literatura e Sociedade. Segundo ele: "A verdade da Arte reside no poder de romper o monopólio da realidade estabelecida (isto é, daqueles que a estabeleceram) para definir aquilo que é real". As grandes obras da pobremente denominada "literatura de engajamento social", como "Vidas Secas", por exemplo, são grandes porque exerceram plenamente esse poder, e não porque cumpriram uma suposta função.
Transpondo o pensamento de Marcuse para esse território, compreendo que a obra de arte literária não precisa ser validada pelo seu compromisso com a questão social, mas, a sua energia estésica pode sim, como quer Marcuse "se tornar uma denúncia [e também] a celebração daquilo que resiste à injustiça e ao terror."

Sandra R. S. Baldessin


A Literatura nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, para a sociedade e para o semelhante


A escola é um espaço social único, devido à interação de diferentes pessoas e pensamentos, e isso a torna parcialmente responsável pelo ser humano que atua e atuará na sociedade: mais humano ou mais material. Embora, as condições humanas oferecidas pela sociedade contemporânea não respeitem e não incentivem o homem a buscar as suas realizações de forma digna e ética _ respeitando a si mesmo, ao próximo, ao ambiente_ é possível acreditar que, o ser humano nasceu para sonhar, buscar a realização de seus sonhos, afinal, ainda que, o homem seja um produto da transformação do meio social, é biológico. E, mesmo que sua biologia se adapte às necessidades de sobrevivência, a sua natureza antológica clama pelo convívio social ético e humano.
O momento histórico atual da educação trata de ações políticas e pedagógicas construídas no trabalho coletivo, na vivência, no diálogo. Na interação das pessoas e do conhecimento. Já na origem da educação; o aprender se estabelecia nas praças, nos liceus e nas Academias de Atenas, e não em salas fechadas com alunos inertes, memorizando o que lhes é transferido, baseado em programas de instrução forçada que valorizam a memorização.
Segundo o Professor Paulo Freire, a capacidade de aprender, não significa apenas adaptação, mas a faculdade para transformar a realidade, para nela intervir. Deste modo, a educação contemporânea não pode ser fundamentada na memorização de dados científicos, mas no conhecimento dos dados históricos da humanidade como elementos informativos necessários para a formação de um homem e de uma sociedade conscientes de sua existência e de sua responsabilidade diante do espaço que ocupam no universo.
Para Paulo Freire homens e mulheres são capazes de dignificantes testemunhos, mas também de impensáveis exemplos de baixeza e de indignidade e segundo as palavras finais de Eglantyne Jebb1[1], em uma geração, o mundo poderá mudar para o bem ou para o mal, e isso dependerá da nossa atitude com as crianças. O ensino da Literatura pode contribuir para que os estudantes reflitam conscientemente sobre seus atos, pois ela é uma necessidade que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque dá forma aos sentimentos e liberta para compreender o homem e o mundo.
No contexto escolar é possível verificar que dentre as disciplinas ministradas, a Literatura é uma das áreas propulsoras para o resgate dos valores sufocados em cada ser humano, pois seus conteúdos contribuem significativamente para tornar os seres envolvidos no processo de aprendizagem mais sensíveis uns com os outros e com o ambiente.
Para Antonio Cândido, a Literatura desenvolve a quota de humanidade (reflexão, aquisição de saber, relacionamento, afinamento das emoções, capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo da humana) na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos para a natureza, para a sociedade e para o semelhante.
Por isso a escola não pode deixar, principalmente, que crianças e jovens passem por ela sem assegurar a apropriação e a vivência dos saberes literários que poderão transformar a sua realidade. O ensino da Literatura não pode limitar se à leitura utilitarista, subsidiando o uso da escrita, passando superficialmente pelo conceito de Literatura sem entendimento.
Infelizmente, sabe-se que, os conteúdos de Literatura no Ensino Médio acabam sendo pouco aprofundados devido à carga horária limitada da disciplina de Língua Portuguesa e Literatura, da dificuldade de material adequado, da falta de leitura do próprio docente, do pouco tempo para preparo das aulas. Esses fatores implicam em excluir o estudante da aquisição do verdadeiro significado do que é Literatura.
Para Antônio Cândido, a Literatura é indispensável, é uma necessidade humana, é manifestação universal; pois ninguém passa 24 (vinte e quatro) horas sem a presença do fabulado, de modo que a ficção e a poesia estão tão presentes tanto no erudito quanto no analfabeto. Portanto, a Literatura é o sonho acordado, e é indispensável ao equilíbrio social. Ela é fator indispensável de humanização, pois confirma o homem na sua humanidade, porque atua no subconsciente e no inconsciente.
Seguindo o pensamento de Antônio Cândido de que a Literatura permite ordenar os pensamentos e os sentimentos humanos para se organizar a visão do mundo e de si mesmo diante do outro e do universo, por que então o ensino de Literatura, que deveria ter um espaço próprio para aprofundamento de seus conteúdos, é tido como pouco útil à prática social e às necessidades da sociedade, no entanto a Literatura é imprescindível para a penetração nos problemas e a busca de soluções.
Limitar o ensino da Literatura é promover maior desigualdade social, pois tanto à “elite” quanto às massas têm necessidade do bom ensino dos conteúdos literários. Por isso, é necessário discutir e propor metodologias que resgatem o ensino da Literatura, a partir da compreensão do conceito de Literatura e da sua contribuição na formação do ser humano.

http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br



LITERATURA E ESTRUTURA SOCIAL


Considerações iniciais

A obra literária é uma forma de manifestação artística condutora de diversos aspectos sociais da realidade que visa retratar. Para que ela exista e seja dotada de certa função, é necessário que haja uma troca de valores entre o autor e o seu público. Nesse sentido, os ritos, heróis, conflitos e enredos advindos das peças literárias cumprem uma função social: cria um espaço de interação de valores sócio-históricos entre os sujeitos aí envolvidos (autor e leitor); a literatura só existe nesse intercâmbio social.
Diante dessa cotidiana vivência artística exercida pelo homem, que é uma experiência específica de expressar suas concepções acerca de seu meio e instituições sociais, essa atividade, que não se assemelha a nenhuma outra, pode ser analisada através de um prisma sociológico? A literatura é um espelho da realidade social ou possui autonomia em relação a esse meio? Como relacionar as obras literárias e seus respectivos autores com o contexto histórico-social de sua época? Metodologicamente é possível fundamentar uma sociologia da literatura? Indagações estimuladas quando a atividade literária torna-se objeto de pesquisa em ciências sociais. Para aprofundarmos tais questões, analisam-se três posicionamentos adotados no âmbito sociológico acerca da literatura: a estética, a materialista e a mediadora (FACINA, 2004).

Perspectiva estética

A primeira concepção, chamada de tendência estética ou idealista, baseia-se em fontes estéticas ou psicológicas provenientes do autor e sua obra para estudar o conteúdo literário, marginalizando as condições sociais como centro de foco de atenção em suas análises. Essa tendência considera o campo social como interferências que atuam nas obras em segundo plano, as quais estão primeiramente sujeitas aos processos estéticos ou psicológicos advindos das capacidades criativas do autor.
Esse procedimento teórico tende a caracterizar a tendência estética plena de abstrações metodológicas e conceitos a priorísticos, tais como o de “instinto estético” Como dito anteriormente, os elementos sociais e os valores gestados em seu seio criam um espaço de interação entre o autor e o seu público.
O vácuo social na literatura, defendido por essa tendência teórica, acaba efetivando um dualismo entre posições estéticas e conjuntura social. O que empobrece essa concepção quando percebe-se que a linguagem (estética) e a significação (valores sociais) estão permanentemente envolvidos na produção literária. Dessa forma, detecta-se que a manifestação artística é constituída pela prática social, e não de idéias autônomas e isoladas da esfera social, que são desenvolvidas pelos sujeitos.
Essa concepção idealista define a estética e a cultura como esferas à parte na manifestação literária, completamente autônomas uma da outra. Romances, contos e poesias seriam aí expressões da individualidade e da singularidade do autor-gênio. Porém, essa postura fundada no indivíduo genial se contradiz quando situamos esse sujeito no campo artístico de sua época, investigando o vínculo entre os conflitos sociais de seu tempo e as questões históricas presentes em sua obra. Não que o escritor não possua a liberdade de ação criadora, mas que esse talento possua limites objetivos: o campo social e os hábitos aí firmados são centrais para entenderem-se as manifestações desses sujeitos.
O conjunto de disposições sociais é o que pauta e dá sentido às ações dos agentes (autores e leitores), o que organiza as práticas e percepções desses sujeitos. Essa noção acerca do âmbito social é o que “(...) permite superar a oposição entre leitura interna e a análise externa sem perder nada das aquisições e das exigências dessa abordagem, tradicionalmente percebidas como inconciliáveis” (BOURDIEU, 1996, p. 234).
Exemplificando essa afirmação, pode-se detectá-la através de um simples exemplo: os contos de fadas da Europa Medieval. Histórias que, aparentemente eram estranhas à realidade social daquela época, por possuírem personagens e enredos que eram alheios a ao sistema social vigente. Porém, possuíam um universo imaginário bastante homólogo aquela estrutura de sociabilidade; a experiência social daquele grupo estava interligada de maneira significativa naqueles textos literários.
Atesta-se empiricamente tal análise quando se percebe que o fundo temático constante nessas histórias (Chapeuzinho Vermelho, Joãozinho & Maria, Branca de Neve, etc) eram as mensagens de cunho moral, que procuravam moldar socialmente os indivíduos a partir de determinados valores históricos constituídos pela cultura cristã. O que demonstra que esses pequenos contos, a priori, desligados de sua esfera social em detrimento de sua instância mágica (animais falantes, etc), tornam-se homólogas à esfera social, instante em que a religião e sua moral eram temas preponderantes nesse sistema de sociabilidade.
Portanto, não há qualquer antinomia entre a possibilidade de uma relação estrita entre criação subjetiva do autor e a emergência da realidade social em sua obra. Contrariando a tendência que valoriza a estética como foco de análise, pode-se afirmar que:
Os postos mais altos da criação literária podem não só ser estudados, em tal perspectiva sociológica, tão bem como as obras médias, como se revelam mesmo particularmente acessíveis a uma tal investigação. Por outro lado, as estruturas categoriais sobre as quais incide este gênero de sociologia literária constituem precisamente o que confere à obra a sua unidade, o seu caráter especificamente estético e, no caso que nos interessa, a sua qualidade propriamente literária (GOLDMANN, 1989, p. 13).

Perspectiva materialista

A segunda perspectiva para se analisar as obras literárias é a tendência materialista. Essa concepção de estudos sociológicos no campo da literatura foi o método mais utilizado em análises da relação entre a obra e seu meio social, desde a segunda metade do século XIX (CANDIDO, 1967).
Do século passado aos nossos dias, essa sociologia literária tradicional esforça-se por estabelecer relações entre o conteúdo expresso da obra com o conteúdo da consciência coletiva de sua época. Os estudiosos consideram aí o material literário como um reflexo da realidade social, limitando-se então a analisar o que é transplantado da esfera da sociabilidade para a ação e falas das personagens, enredos, etc.
Essa postura metodológica, baseada de forma polêmica e reducionista no materialismo histórico, desenvolvido inicialmente por Marx, ao afirmar “(...) que os indivíduos são dependentes, portanto, das condições materiais de sua produção” (MARX & ENGELS, 1976, p. 19), torna-se emblemática, quando, de forma mecânica, reduz toda a atividade cultural (literatura, música, teatro, etc) a uma mera dimensão superestrutural dependente e determinada pelas condições materiais. Ela define as manifestações culturais como um campo secundário; que simplesmente tende a espelhar a infra-estrutura ou a base econômica. Esse reducionismo, apesar de inverter a ótica idealista advinda da posição estética, continua a disseminar a falsa separação entre cultura e sociedade (WILLIAMS, 1979).
Além do mais, como foi observado anteriormente, o literato em seu processo de criação não utiliza apenas o seu âmbito social como referência a sua manifestação artística. O seu imaginário, o qual não tem necessariamente um vínculo com o campo empírico, também sempre está ativo na confecção de enredos e personagens. Um bom exemplo disso é a obra A Metamorfose do tcheco Franz Kafka.
Nesse romance, a personagem principal transforma-se num inseto, a partir de então, ela passa a observar as relações sociais que o rodeiam numa perspectiva diferenciada. Desse modo, como a postura materialista, que considera a literatura como mero reflexo social, consegue captar o sentido sociológico representado num fantástico inseto da obra kafkiana, que a priori, não possui nenhum vínculo com o campo empírico social?
Esta visão reducionista, ao postular uma teoria da arte em que busca-se explicar os fenômenos culturais enquanto reflexos da base econômica, sem a capacidade de intervenção na dinâmica desta por parte do processo imaginário do autor, reduz potencialmente toda uma gama de possibilidades de análises de obras onde a constância de referências fantásticas são iminentes.
Diante desse contexto, há a possibilidade para analisar uma obra naturalista de um Émile Zola, escola literária cerceada pela preocupação de produzir obra da forma mais verossímil possível da realidade. Mas, ao mesmo tempo, como tentar efetuar o mesmo num texto recheado de símbolos imaginários como são os poemas do simbolista Cruz e Souza?
A arte como reflexo imediato do mundo objetivo, em que prevalece uma ótica mecanicista, torna-se inconsistente ao perceber suas antinomias:
Hoje sabemos que a integridade da obra não permite adotar nenhuma dessas visões dissociadas; e que só a podemos entender fundindo texto e contexto numa interpretação dialeticamente íntegra. (...) Os estudiosos habituados a pensar, neste tópico, segundo posições estabelecidas no século XIX, quando ela estava na fase das grandes generalizações sistemáticas, que levavam a conceber um condicionamento global da obra, da personalidade literária ou dos conjuntos de obras pelos sistemas sociais, principalmente do ângulo literário. Todavia, a marcha da pesquisa e da teoria levou a um senso mais agudo das relações entre o traço e o contexto, permitindo desviar a atenção para o aspecto estrutural e funcional de cada unidade considerada (CANDIDO, 1967, p. 4-8).
Ambas as tendências teóricas (a obra literária como realidade desprendida de seu contexto histórico ou como espelho/reflexo da sociedade) trouxeram dicotomias para a história literária, as quais limitaram as tentativas de teorizações sociológicas acerca da natureza romanesca ou poética. Diante das querelas e antinomias discutidas anteriormente, cabe à atual disciplina sociológica questionar, problematizar e organizar as suas práticas metodológicas, a fim de superar essas polarizações teóricas.

Fundamentando uma nova Metodologia para a Sociologia da Literatura

Mediante as inconsistências teóricas advindas das perspectivas idealista e materialista, surge uma outra tendência no ramo sociológico da literatura: a posição mediadora. A idéia de mediação surge com a intenção de problematizar a teoria do reflexo social, pois demonstra que não só a esfera social é ativa na criação literária, mas também há um processo ativo por parte do imaginário do autor nesse contexto. Quer dizer, analisando uma obra artística a partir dessa postura é considerar que a questão social não está refletida diretamente na arte, pois ela é captada por um processo (imaginário do ficcionista) que altera seu conteúdo original (FACINA, 2004).
Desse modo, numa análise efetivada nessa filiação teórica, exige-se que se entenda a obra inserida enquanto tal, num processo histórico no qual ela é parte ativa, não sendo nem uma esfera absolutamente autônoma e muito menos uma projeção secundária de modo determinístico pelas relações sociais. Ela estaria inclusa de um modo indireto na relação entre experiência empírica (esfera social) e sua composição (imaginário do autor).
Com base nessa perspectiva, a literatura expressa as visões de mundo que são coletivas de determinados grupos sociais. Essas visões de mundo são constituídas pela vivência histórica desses grupos, formada pela ação dos indivíduos, que são construtores dessa experiência. São elas que compõem a prática social dos sujeitos e seus grupos sociais. Nesse caso, analisar as visões de mundo transformadas em textos literários, investigando aí as condições de produção e a situação sócio-histórica de seu autor, deve ser o foco de estudos para a investigação sociológica:
O principal elemento desta teoria de um vasto alcance é a Weltanschuung – visão de mundo que é comum a um escritor e no grupo social de que faz parte e que pode encontrar expressões manifestamente apresentadas tanto no domínio da literatura como noutros domínios. Sem ser inteiramente determinada pelas condições sociais e econômicas, a Weltanschuung depende delas em ampla medida (WARWICK, 1989, p. 222).
Essa postura mediadora possui a influência metodológica acerca de seu objeto da sociologia compreensiva. Para essa tendência, o objetivo essencial da sociologia é a captação da relação de sentido da ação humana, ou seja, chegar a conhecer um fenômeno social quando o compreende como fato carregado de sentido que aponta para outros fatos significativos. Esse sentido, quando manifesta-se, é o que dá à ação o seu caráter concreto, quer ele seja do âmbito político, religioso ou econômico (WEBER, 1992).
Desse modo, as relações sociais são conteúdos significativos atribuídos por aqueles que agem tomando outro ou outros como referência: fidelidade, conflito, piedade, etc. Essas visões de mundo seriam decorrentes das condutas de um sujeito (escritor) e de outros (públicos) orientados por algum tipo de sentido comum entre eles. O que equivale a afirmar que os verdadeiros motivadores da criação literária são os grupos sociais, e não os indivíduos isolados. O criador individual (o escritor) faz parte desse grupo, dada a sua origem ou posição social, sempre norteado pela significação objetiva de sua obra perante o contexto sócio-histórico que pertence. É nessa relação que se constitui o conteúdo da obra de arte, ela situa-se não somente na criatividade do artista individual, mas também dentro das experiências do grupo social, numa influência recíproca entre esses dois atores sociais.
Um exemplo que ilustra essa questão é a ação exercida por três indivíduos que carregam um piano. Em qual desses sujeitos está o sentido da ação? Certamente em nenhum deles considerados separadamente, mas ao contrário, o valor desse acontecimento encontra-se na realidade nova criada pela ação em que cada um dos participantes é parte integrante do fato.
Desse modo, perante relações intersubjetivas que envolvem os participantes é que se encontra o sentido da ação na conduta desenvolvida por estes: os três carregavam o piano com a finalidade de levá-lo para um bar, e que assim pudessem usá-lo na apresentação de sua banda musical; eis aí um tipo de sentido. Quer dizer, o comportamento social é uma tentativa de dar respostas significativas a uma determinada situação, o que cria um equilíbrio entre o sujeito da ação e o objeto sobre o qual esta ação se verifica.
Considerações teóricas que equivale a afirmar que o estudo da literatura não deve se restringir às relações entre o escritor e sua obra, mas visa conseguir “(...) destrinchar os elos necessários, vinculando-os a unidades coletivas cuja estruturação é muito mais fácil de apurar e elucidar” (GOLDMANN, 1967, p. 206). Até mesmo porque:
A experiência de um único individuo é muito mais breve e demasiado limitada para poder criar tal estrutura mental; esta não pode deixar de ser o resultado da atividade conjunta de um número importante de indivíduos que se encontrem numa situação análoga, isto é, que constituam um grupo social privilegiado, indivíduos que tenham vivido muito tempo e de maneira intensa um conjunto de problemas e se tenham esforçado por lhe encontrar uma solução significativa. Isto equivale dizer que as estruturas mentais, ou, para empregar um termo mais abstrato, as estruturas categoriais significativas não são fenômenos individuais mas fenômenos sociais (GOLDMANN, 1989, p. 12-13).
Assim, os indivíduos desenvolvem visões de mundo que estão vinculadas em uma criação literária, que não são fruto nem de um sujeito isolado, muito menos de um mero reflexo de seu meio social. Essas visões de mundo são compartilhadas por membros de uma dada comunidade e também são referências a esses grupos sociais, nesse sentido, são formulações coletivas frente ao mundo. O verdadeiro autor da criação literária é esse sujeito coletivo, havendo então a necessidade do sociólogo captar as estruturas significantes desse processo sócio-histórico impresso nos romances e noutros tipos de peças literárias. Essa coletividade é entendida como uma complexa rede de relações interindividuais, nos quais há o processo em que “(...) o artista, sob o impulso de uma necessidade interior, usa certas formas e a síntese resultante age sobre o meio” (CANDIDO, 1967, p. 25).
Isso se dá porque os sujeitos, perante os desafios presentes nas relações sociais, procuram agir no intuito de intervir nos acontecimentos sociais através de respostas às questões com que se deparam. Esse esforço para adaptar-se à realidade segundo as conveniências sociais faz com que os indivíduos tendam a efetivar seus comportamentos enquanto “estruturas significativas e coerentes”. Tal estrutura, na qual há a interação do grupo social e a procura de respostas às suas expectativas, provoca a criação artística, que é uma forma significativa e articulada de expressão das possibilidades objetivas presentes nesse grupo social. O autor funda em seus escritos a mediação constitutiva através da qual a consciência possível da coletividade social se encarna de maneira coerente na obra literária, há então a “(...) criação de um mundo cuja estrutura é análoga à estrutura essencial da realidade social” (GOLDMANN, 1967, p. 195).
A partir dessa abordagem, complementar aos procedimentos metodológicos insuficientes na análise literária, discutidas anteriormente, surge a concepção em que os sujeitos elaboram suas visões de mundo como parte de sua experiência, que necessariamente é compartilhada com um ou mais grupos sociais, o que resulta na literatura enquanto algo que foi construído coletivamente. Nesse sentido, os literatos são formuladores de idéias, vinculadores de visões de mundo que são construídas coletivamente, exercendo os escritores a função de intelectuais perante a sociedade.
Mediante essas reformulações teóricas, obtém-se uma nova postura teórica, na qual a relação entre o texto literário e a realidade social se dá através de uma visão de mundo. Quer dizer, o sociólogo ao estudar uma obra artística, deve perceber a homologia entre a estrutura da visão de mundo do grupo social a que pertence o autor literário e a estrutura histórica do texto em questão, cabendo ao cientista social trazer à luz o sentido profundo do texto literário através da análise de seu conteúdo. Nesse sentido, a complexidade desse método mediador (FACINA, 2004) confere importância às estruturas que fundamentam as visões de mundo da obra – a relação entre o processo de concepção da obra de arte e o espaço social em que é produzida.
Essa orientação relacional compreende a obra dentro de suas condições de produção, dadas pela estrutura de campo histórico e literário num determinado momento. Ambas as estruturas são constituídas por diversos atores sociais, os quais de uma forma individual ou organizadas coletivamente, emitem diferentes posições sociais e políticas distintas e oponentes entre si. Nessa estrutura social, a posição ocupada pelo literato está associada à trajetória histórica que ele percorreu para ocupar a posição de intelectual: os grupos sociais aos quais está articulado, o tipo de público de suas obras, o modo como seus textos são ou não aceitos, etc (BOURDIEU, 1996).
Assim, a análise do texto literário e de suas condições sociais de produção seria efetuada de acordo com uma lógica relacional – a observação das relações entre os diferentes atores sociais envolvidos na atividade intelectual (autor, público, meios de comunicação, etc) e as posições sócio-políticas presentes no período histórico em que a narrativa literária foi escrita.
Portanto, cabe ao cientista social indagar a si mesmo como essas visões de mundo tornam-se coesas e a partir de quais pressupostos valorativos presentes nas relações sociais elas se utilizam para essa coesão. O objetivo da análise sociológica é o de desvendar a lógica do “jogo de poder social” e demonstrar como esse fenômeno é retratado na obra artística. Assim, a partir dessa discussão, pode-se propor três aspectos da atividade literária a serem observadas em pesquisas de âmbito do sociológico:
1) A estrutura social – constitui a mediação entre a obra de arte e as dimensões da realidade social em que ela está inserida. Isso significa observar como as pressões que os valores culturais, os grupos sociais, as posições políticas vigentes e o público do literato vão exercer na elaboração e aceitação do texto literário em seu respectivo período histórico.
2) O gênero literário – as tendências artísticas possuem suas normas, suas “leis internas”, suas tradições e predileções. Tais aspectos privilegiam certos temas e marginalizam outros. É a partir desse “código estético” que o autor se pautará para se dirigir ao público e críticos, além de eleger determinadas normas de seus gênero literário ao abordar os temas em seu texto.
3) O autor – a posição constituída pelo artista implica no valor dado ao seu imaginário, os seus intuitos individuais; as formas e os conteúdos que ele pretende atribuir a sua obra e expectativa de como ele será aceito pelo público.
Lembrando que não há prioridade de um fator sobre o outro, pelo contrário, a postura mediadora de análise consiste em considerar que esses três atributos estão profundamente imbricados uns aos outros dentro da obra de arte. Esse tipo de procedimento metodológico possibilitará encontrar as atividades intelectuais, políticas, sociais e econômicas de forma agrupada nas estruturas de conteúdo das obras literárias estudadas e, assim, ser possível estabelecer entre elas o conjunto de relações inteligíveis que a mensagem do texto tende a mostrar – homologias (GOLDMANN, 1967).

Considerações finais

Diante das reflexões teóricas aqui discutidas, verifica-se que deve-se propor a superação das posições idealistas e materialistas na fundamentação metodológica da sociologia da literatura. Ao invés disso, buscando um modo mais abrangente de análise, a literatura deve ser tomada como um campo que diz respeito a um conjunto de práticas, contextos e atores sociais se auto-definindo e se auto-regulando. Quer dizer, o estudo sociológico da atividade literária deve observar as práticas que dizem respeito não só à estrutura social, mas aos intuitos do escritor e dos diversos agentes culturais envolvidos na produção e apropriação do texto literário. A obra literária não é mero reflexo da consciência coletiva ou individual, mas a concretização das ações sócio-culturais tomadas por um grupo social na definição da consciência coletiva: a produção literária corresponde à estrutura mental de um determinado grupo social. Desse modo, a obra literária de uma dada sociedade e época é o resultado de diversas práticas, pressupostos, concepções expressas em valores e posturas reconhecidos enquanto tal pela coletividade.
Esse procedimento metodológico consiste em situar sócio-historicamente autores e obras, definindo o lugar social de onde eram escritas, quais as finalidades das questões levantadas por esses intelectuais perante a sociedade, em que veículos eram publicadas e a que tipo de público o autor se dirigia. Enfim, perceber os olhares desses escritores sobre sua sociedade e os debates públicos mais importantes de sua época devem ser contextualizados. É preciso compreender a lógica das visões de mundo, dos juízos de valor e das opiniões políticas que os escritores elaboram em suas obras. Ter em conta toda essa complexidade do objeto literário é parte fundamental da elaboração de um olhar sociológico e de um consistente procedimento metodológico, apto a captar as características e peculiaridades intrínsecas na arte literária.

Dennis de Oliveira Santos


Referências bibliográficas
BOURDIEU, Pierre. As Regras da Arte. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade: estudos de teoria e história literária. 2ed. São Paulo: Companhia Nacional, 1967.
FACINA, Adriana. Literatura e Sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
GOLDMANN, Lucien (org.). Sociologia da Literatura. São Paulo: Mandacaru, 1989.
______. Sociologia do Romance. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.
MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. Lisboa: Martins Fontes, 1976.
WARWICK, Jack. Um Caso-Tipo de Aplicação de Método Sociológico: os escritores canadianos franceses e sua situação minoritária. In: GOLDMANN, Lucien (org.). Sociologia da Literatura. São Paulo: Mandacaru, 1989.
WEBER, Max. Metodologia das Ciências Sociais. São Paulo: Cortez, 1992.
WILLIAMS, Raymond. Marxismo e Literatura. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.


A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA SOCIEDADE

Numa época de especialização, a literatura define os ideais de um período de crise e transição. Daí toda grande obra literária ser de um período de transição (veja-se a importância da mensagem de Dante, Dostoievski ou Kafka), pois é nesses períodos que se põe dramaticamente ao homem essa interrogação: qual o sentido de sua vida, qual a significação do mundo que o cerca? O médico, engenheiro, advogado, encarnam especializações necessárias ao exercício de suas atividades, mas tem em comum, um atributo, o de serem humanos e o de enfrentarem idênticos problemas numa sociedade em transição. Somos filhos de uma sociedade individualista e liberal e caminhamos para um outro tipo de sociedade planificada. Como se dará tal mudança? Quais os agentes desse processo? Não o sabemos. O que sabemos é que assistimos a um espetáculo de crise, de transição, onde os velhos quadros sociais desaparecem e os novos ainda não se estruturaram.

A literatura é uma forma de resposta a essa interrogação. Ela, pelos escritos de Homero transmitia-nos uma mensagem corporificando um tipo de homem: o cavaleiro e o nobre; pela pena de Hesíodo, transmitia-nos uma ética do trabalho e sua dignificação como sentido da vida. Os escritos de Joyce, Kafka e Faulkner, constituem uma mensagem adequada aos tempos novos: as formas clássicas do romance estão fenecendo; cabe ao homem descobrir uma nova linguagem para exprimir novas experiências de uma nova vida. De todas as formas de arte a literatura é a mais próxima da vida e a mais sintética, pois reúne a arquitetura, quando no processo de composição do romance, a música, na estrutura melódica da frase, a pintura, no traçar o caráter dos personagens, a filosofia, ao definir seus ideais de vida. Daí sua importância para a cultura. Sendo ela acessível aos diferentes especialistas, poderá formular novas formas de ação ética e padrões morais.

A transição do século XIX e XX foi assinalada, em primeiro lugar, pelos impressionistas, pelo naturalismo literário e posteriormente pelos teóricos de política, economia e filosofia. A literatura pertencendo a um dos campos assistemáticos do conhecimento tem esse poder. Pode auscultar as mudanças que se operam no mundo e pela imaginação de seus grandes nomes, definirem ao homem comum, novos caminhos. Se não conseguir formulá-los com nitidez, pelo menos servirá como testemunho de uma época. Cabe ao escritor viver plenamente sua época, pois só atinge a grandeza, aquele que sentiu seu próprio tempo. Este é o segredo da universalidade de um Goethe, Balzac ou Cervantes. Nessa tentativa de traçar, com lucidez os quadros do mundo, onde se desenrola o drama humano, num período de transição, é que a literatura deixará de ser o “sorriso da sociedade”, para ser testemunho de uma época, uma mensagem acessível a todos, que permitia ao homem independente de sua especialidade sentir-se junto ao seu semelhante, como “igual entre iguais”, cumprindo um sábio preceito chinês: Se as profissões diferenciam o homem, cabe à arte uni-lo em torno de ideais comuns. Isso ela pode fazê-lo, pois sua linguagem é universal e a condição humana idêntica em toda a face da terra.

Antonio dos Anjos

segunda-feira, 26 de abril de 2010

LER ESTÁ NA MODA



ESTUDO DA RELAÇÃO ENTRE OBRA E CONDICIONAMENTO SOCIAL

O externo, no caso o condicionante social, importa não como causa nem como significado, mas como elemento que desempenha certo papel na constituição da estrutura, tornando-se, portanto interno. Pode-se, para tanto, observar à aceitação de um livro, o gosto das classes, a origem social dos autores, a relação entre obras e idéias, a preferência por um gênero, a influência da organização social, política e econômica, etc.Como a sociedade define o papel e a posição do artista?Como a obra depende dos recursos técnicos para incorporar os valores propostos?Como se configuram os públicos?A análise crítica, de fato, pretende ir mais fundo, sendo basicamente a procura dos elementos responsáveis pelo aspecto e significado da obra, unificados para formar um todo indissolúvel, em que tudo é tecido num conjunto, cada coisa atuando e vivendo sobre a outra.Traços sociais funcionando para formar a estrutura do livro:A composição do livro repousa numa espécie de longa e complicada transação (com cenas de avanço e recuo, diálogos construídos como pressões e concessões, enredo latente de manobras secretas), no decorrer da qual a posição dos cônjuges vai se alterando. Vemos que o comportamento do protagonista exprime em cada episódio, uma obsessão com o ato de compra a que se submeteu, e que as relações humanas se deterioram por causa dos motivos econômicos.A heroína, endurecida no desejo de vingança, possibilitada pela posse do dinheiro, inteiriça a alma como se fosse agente duma operação de esmagamento do outro por meio do capital, que o reduz a coisa possuída.E as próprias imagens do estilo manifestam a mineralização da personalidade, tocada pela desumanização capitalista, até que a dialética romântica do amor recupere a sua normalidade convencional. No conjunto, como no pormenor de cada parte, os mesmos princípios estruturais definem a forma da matéria.Nesse tipo de análise, levou-se em conta o elemento social, não exteriormente como referência que permite identificar na matéria do livro a expressão de certa época ou de uma sociedade determinada, nem como enquadramento, que permite situá-lo historicamente; mas como fator da própria construção artística, estudado no nível explicativo e não apenas ilustrativo.Nesse caso saímos dos aspectos periféricos para chegar a uma interpretação estética que assimilou a dimensão social como fator de arte.O elemento social se torna um dos muitos que interferem na economia do livro, ao lado dos psicológicos, religiosos, lingüísticos e outros, fermento orgânico de que resultou a diversidade coesa do todo.Todavia faz-se necessária evitar a tendência devoradora de tudo explicar por meio dos fatores sociais.Tipos de estudos sociológicos em Literatura:Trabalhos que procuram relacionar o conjunto de uma literatura, um período um gênero, com as condições sociais.Estudos que procuram verificar a medida que as obras espelham ou representam a sociedade, descrevendo os seus vários aspectos.Estudo da relação entre a obra e o público, isto é, o seu destino, sua aceitação, a ação recíproca de ambos.Estudo da posição e da função social do escritor, procurando relacionar a sua posição com a natureza da sua produção e ambas com a organização da sociedade.Estudo da função política das obras e dos autores, em geral com intuito ideológico marcado.Em todos, nota-se o deslocamento de interesse da obra para os elementos sociais que formam sua matéria, para as circunstâncias do meio que influíram na sua elaboração, ou para sua função na sociedade.Fundamental, todavia é tomar cuidado ao considerar os fatores sociais no seu papel de formadores da estrutura, vendo que tanto eles quanto os psíquicos são decisivos para a análise literária e que é preciso, para a definição da integridade estética da obra, de ambos.Cândido, A. Literatura e sociedade. SãoPaulo: Companhia Editora Nacional.

http://lersaber-feevale.blogspot.com/2009/05/literatura-e-sociedade.html


LITERATURA E SOCIEDADE

Ao conviver em sociedade, a humanidade desenvolveu as muitas formas de enfrentar coletivamente inumeráveis desafios, dando respostas inteligentes a cada um deles, aprendeu a dominar as linguagens para expressar tudo aquilo que desejava, que sentia, que pensava… ampliando sua formação enquanto unidade social, cultural, histórica, politica… Transformou a natureza, imprimindo nas geográficas paisagens os aspectos humanos, se humanizou por fim.
A literatura é uma dessas respostas inteligentes dada para este grande desafio que é interpretar e interagir com as emoções. É uma eminente parte da comunicação que utiliza os símbolos lingüísticos, trazendo consigo toda exuberância e simplicidade de ser palavra, ecos, rimas, letras, fonemas…
A comunicação feita com palavras é o meio mais eficaz para exprimir tudo aquilo que se quer; então, ao se perguntar sobre a importância e utilidade da literatura, insira em seus pensamentos por gentileza que, ao inventar a literatura, a humanidade construía passo a passo maneiras plurissingulares de tornar concretos e inteligíveis as sentidos os sentimentos, os imaginários, os subjetivos, os sonhos, as inéditas visões de mundo, as supra-realidades, as ficções, onde qualquer semelhança é arte e comunicação.
A literatura está tão presente na vida da humanidade, que todas as sociedades que existem ou existiram desenvolveram suas formas de linguagens sendo necessário aproximar-se intimamente das sensibilíssimas expressões literárias para melhor entender os povos que as criaram.
Para ilustrar o que pretendo dizer convido o leitor para uma viagem
pela literutura brasileira desde já me negando a concordar com esta visão emburrecedoramente ideologizada que tenta nos fazer cre que a nossa lingua é a mais difícil do mundo e que nossa literatura é incompreensível, chata e sem aplicatividade.

(Ney Silva)


A VIDA INTERTEXTUAL: LITERATURA E SOCIEDADE

Ainda tratando da intertextualidade das formas de arte com a vida, abordarei neste post a questão da literatura e sociedade. Tendo como intertextualidade a comunicação entre textos nas suas diversas formas, escrita, falada, visualizada, etc., pode-se dizer que tanto a vida imita a arte, como a situação inversa também procede. Quantas vezes já tive a impressão ao assistir um filme, ler um livro, ver uma telenovela de reconhecer em algum personagem traços fiéis ou caricatos de pessoas da vida real... Se procurar a intertextualidade com a política e a literatura então, mais personagens ganharão vida no horário político eleitoral, muitos deles fruto do meio em que vivem, outros querendo se passar por caricaturas, com o objetivo de angariar votos daqueles descontentes com os políticos tradicionais, que votam sob forma de protesto em candidatos caricatos. Parafraseando um verso de Cecília Meireles, de seu célebre poema Reinvenção: "A vida só é possível reinventada", e para alguns, sejam políticos, personalidades ou outra área, essa máxima da poeta é sua essência de vida, pois só se reinventando, desde o penteado, o corpo em inúmeras operações plásticas, o visual como um todo, e até os dados biográficos idealizados para serem divulgadas à imprensa, quando acabam tornando-se reinventores da própria existência.
Quando li recentemente o livro Como Proust pode mudar sua vida (1997), do filósofo e escritor Alain de Botton, pude comprovar através de seus argumentos algumas antigas convicções leigas qu'eu tinha sobre a intertextualidade entre a literatura e a sociedade. Através de alguns fragmentos do livro, esgotado nas livrarias, e que adquiri (pasmem!) num sebo em Porto Alegre-RS-Brasil, pude me deliciar com uma escrita erudita e ao mesmo tempo coloquial de De Botton, que conduz o leitor ao universo mágico e quase real da Literatura de Marcel Proust, autor de Em busca do tempo perdido.
Citando Proust, De Botton escreve: "(...)esteticamente, o número de tipos humanos é tão restrito que com freqüência acontece, onde quer que estejamos, termos o prazer de encontrar pessoas conhecidas". Essa sensação de dejàvú quem não sentiu ao ler um clássico da literatura, como Romeu e Julieta, que acaba tornando-se pela repetição dos autores ou do tema na vida real, da não-aceitação da família ao amor proibido de dois jovens? Quem já não conheceu algum Cirano de Bergerác, que poeta feio se esconde do seu grande amor, por receio de não ser aceito? Ou de algum Robinson Crusoé, que vive isolado em uma ilha imaginária, seja num condomínio ou numa praia deserta? Ou o ícone e clichê de todo sonhador, Dom Quixote, que avança contra moinhos ideológicos, econômicos ou reais? Ou algum Fileas Fogg, de A Volta ao Mundo em Oitenta Dias, de Júlio Verne, querendo bater recordes atrás de recordes para ter seu nome e façanha impressa no Guiness Book? Enfim, existem pessoas de nossas relações familiares, sociais, profissionais que bem poderiam ser personagens heróicos ou caricatos d'alguma ficção. Basta olhar em volta e perceber os tipos humanos e literários que convivem de forma ambígua, dentro e fora dos livros, filmes, histórias em quadrinhos, telenovelas...
Como escreveu De Botton, situações desse mote têm implicações dentro e fora da literatura: "Um prazer assim não apenas visual: o número restrito de tipos humanos também implica que, repetidas vezes, nós leiamos algo sobre pessoas que conhecemos, em lugares onde jamais poderíamos esperar que isso acontecesse".
Segundo De Botton, "Proust nos ajuda muito ao observar: 'Não se pode ler um romance sem atribuir à heroína os traços da mulher amada'". Essa tranferência da ficção para a realidade é mais visível nas crianças e jovens que se identificam com seus super-heróis, dizendo abertamente, ao assistirem os seriados e filmes: Eu sou o Batman, e eu a Mulher Maravilha, etc. Alguns incorporam tão bem certos traços literários na vida real que acabam tornando-se personagens e não personalidades. Mas isso já é um distúrbio que a psicologia e a psiquiatria (áreas que não tenho conhecimento, poderão melhor definir). Refiro-me neste post ao leitor leigo e ao escritor que se inspira (e qual deles não faz isso?) no seu cotidiano para escrever peças de ficção. Pra mim, essa relação entre literatura e sociedade se pudesse ser expressa em imagem, lembraria muito a representação gráfica do yin e yang - dentro do lado preto há um ponto branco, dentro do lado branco uma pinta preta, ambos como reflexos um do outro. Acredito que a literatura carrega um si uma pitada de realidade, e a vida em sociedade contém também traços diretos e/ou indiretos de literariedade (qualidade daquilo que é literal, que remete à literatura).
Afinal, como escreveu Proust: "Na verdade, todo leitor é, quando está lendo, um leitor de si mesmo. O trabalho do escritor é meramente uma espécie de instrumento óptico, que ele oferece ao leitor para capacitá-lo a discernir aquilo que, sem o seu livro, ele talvez jamais experimentaria sozinho. E, o reconhecimento de si mesmo naquilo que o livro diz é, para o leitor, uma prova da veracidade de seu conteúdo".
Penso que há distinções a serem feitas nessa intertextualidade. Por exemplo, na questão jornalística mesmo: pensar que a verdade de um tempo está expressa e contida nos jornais é não reconhecer a linha editorial do mesmo, quase sempre a favor de algo e contra alguém. Muitos jornais impressos, televisivos, virtuais trazem um componente literário em sua elaboração. Da mesma forma, a literatura ainda que incorpore muitos traços da chamada realidade exterior ao texto, não deve ser lida como retrato fiel de uma época. Parafraseando o Carlos Alexandre Baumgarten, meu professor de Teoria da História da Literatura, no mestrado em Letras (área História da Literatura): "Não se pode querer ler Machado de Assis como se ali estivesse registrada a história da sociedade brasileira do final do século XIX e início do XX. Até pelo fato que se fosse cópia da realidade, deixaria de ser literatura".
Literatura não deve ter o compromisso com a realidade, é um exercício ficcional que utiliza-se nas entrelinhas da crítica social à realidade extratextual. A História sim, busca desvendar os mistérios do passado, embora, através de uma narrativa similar a literária, que aproxima o leitor do texto científico, que mesmo assim, apesar do rigor de seu pesquisador, é uma versão dos fatos e não a verdade única. Ambas as formas de expressão convivem na fronteira entre o real e o imaginário, numa prova de sua intertextualidade. Até mesmo a tradução pode ser encarada como uma nova versão de uma obra, dependendo da perícia ou inaptidão do tradutor. Sabe-se de autores que obtém maior sucesso fora de sua terra natal e de seu idioma nativo, supostamente, por conta da competência do tradutor. Tudo na vida é intertextual, fruto de leituras e vivências daqueles que viveram antes de nós. Todo conhecimento humano é fruto da intertextualidade entre o sonho e a razão.
Afinal, como o próprio Marcel Proust disse um dia: "Para tornar a realidade suportável, todos temos de cultivar em nós certas pequenas loucuras".
Observação: Imagem acima, intitulada "The Big Draw", grafite de Mark Kostabi, extraída da internet, do endereço
http://www.adambaumgoldgallery.com